terça-feira, 13 de julho de 2010

Muitas respostas encontram-se em afirmações de Spinoza

Faz tempos que, ao conversar com amigos que estudam filosofia contemporânea, percebo ser Espinosa o solo no qual se move boa parte do pensamento filosófico contemporâneo. Essa percepção teve sua primeira confirmação quando fiz a leitura de Spinoza o Hegel, escrito por Macherey, neste livro o autor pretende mostrar o falseamento que a leitura de Hegel exerce em relação à filosofia de Espinosa: o alemão chega, inclusive, a traduzir incorretamente uma das passagens de uma carta de Espinosa, tudo isso para excomungar, mais uma vez, o excomungado. Macherey mostra que esse procedimento é adotado por Hegel por ser sua filosofia ultrapassada pela substância imanente, ponto de partida da filosofia espinosana, que se coloca no real como finitude que não é negação do infinito, mas afirmação do mesmo.

Entretanto, para uma pessoa que não tem quase informações acerca da filosofia contemporânea, me incluo dentre elas, mostrar que Hegel leu, tal qual um torturador que faz a vítima assumir crimes que não são seus, os textos espinosanos não esclarece o motivo de ser Espinosa a água do moinho de muitos contemporâneos. Isso se esclarece se soubermos, como fica claro pelo prólogo escrito por Hardt (Leer Macherey), que os filósofos contemporâneos, entre estes inclui-se Deleuze, queriam se livrar do hegelianismo vigente:

Deleuze anuncia,em 1969, que sua geração de filósofos franceses foi definida por um “generalizado anti-hegelianismo”. Ele acabara de terminar seu grande livro sobre Espinosa e, sem dúvidas, a alternativa –Hegel ou Espinosa- estava presente em sua cabeça. Deleuze é muito claro: um sim a Espinosa significa um não a Hegel. (Hardt. In: Macherey. Hegel o Spinoza. P.8-9)


Deleuze não será o único a criar conceitos a partir de e com Espinosa, outros mais farão o mesmo: Althusser e Toni Negri (A anomalia selvagem: poder e potência em Spinoza), são bons exemplos. Dentre as obras mais recentes que se apropriam de alguns conceitos de filosofia de Espinosa encontramos, mais uma vez, Negri, mas agora acompanhado por Hardt, que em seu Império, publicado em 2000, utiliza e faz uma releitura de conceitos originários da filosofia de Espinosa: multidão e imanência, constituem bom exemplo. Além disso, Negri em várias passagens do livro situa Espinosa como precursor de filosofias contemporâneas:


O anti-humanismo que foi projeto tão importante para Foucault e Althusser na década de 1960 pode ser vinculado efetivamente a uma batalha sustentada por Spinoza trezentos anos antes. Spinoza denuncia qualquer entendimento da humanidade como imperium in império. Em outras palavra, ele recusou conceder à natureza humana qualquer lei que fosse diferente das leis da natureza. Donna Haraway leva adiante o projeto de Spinoza em nossos dias quando insiste em derrubar as barreiras que impusemosentre o humano, o animal e a máquina. (Negri. 2000, p. 108)


A passagem acima, além de mostrar que o projeto contemporâneo é similar aquele de Espinosa, nos mostra que mesmo no pensamento pós-feminista há ecos da filosofia de Espinosa. Donna Haraway é uma pós-feminista, tomada por muitos como teórica Queer. Em seu Manifesto Ciborgue, de fato, Haraway apresenta um modo de pensar os ciborgues (figura que não tem fronteiras definidas entre animal, humano e máquina) muito próximo ao modo como Espinosa pensa a noção de modo, embora lá não apareça nenhuma referência explicita ao filósofo.

Na mesma linha teórica, a saber, Queer theory, uma das vozes contemporâneas assume, em uma nota de um de seus livros, trabalhar um de seus conceitos numa perspectiva que é a de Espinosa. Estou falando de Beatriz Preciado que, no seu Testo Yonque (publicado em 2008), quando começa a desenvolver o conceito nomeado de Potentia Gaudendi, nos diz o seguinte: Trabalho aqui a partir da noção de “potência de atuar ou força de existir” que, a partir da noção grega de dynamis e seus correlato metafísico escolástico, elaborara Espinosa . (Preciado. P.38).

Recomendo, para não ficarmos somente em terras estrangeiras, o primeiro Romance de Clarice Lispector: Perto do coração selvagem. Neste romance há várias passagens em que a autora cita Espinosa, sobretudo, a segunda parte da Ética. Não seria isso um bom indicio da influência do pensamento de Espinosa na obra de Clarice? Não lembro bem e não posso conferir, pois não possuo o livro, mas creio que, em O dorso do Tigre, Benedito Nunes, quando aborda a obra de Clarice, não faz referência a Espinosa, se limitando a falar dos estóicos e de Sartre.

Termino com uma passagem do livro de Clarice, passagem que tem o tom que eu pretendia dar à postagem, a saber, apontar para potencia contemporânea do pensamento espinosano. Entretanto, antes de passar ao texto de Clarice, preciso lembrar uma brasileira que se dedica ao estudo de Espinosa: Marilena Chaui. Basta estar atento ao seu Nervura do real para perceber não se tratar de mera obra historiográfica,;Marilena, ao interpretar os textos de Espinosa, o reinscreve no pensamento contemporâneo e se inscreve no mesmo junto com ele. Fiquemos com Clarice:


Não esquecer: “o amor intelectual de Deus” é o verdadeiro conhecimento e exclui qualquer misticismo ou adoração. – Muitas respostas encontram-se em afirmações de Spinoza. Na idéia por exemplo de que não pode haver pensamento sem extensão (modalidade de Deus) e vice-versa, não esta afirmada a mortalidade da alma? É claro: mortalidade como alma distinta e raciocinante, impossibilidade clara de forma pura dos anjos de S. Tomaz. Mortalidade em relação ao humano. Imortalidade pela transformação na natureza. –Dentro do mundo não há lugar para outras criações. Há apenas oportunidade de reintegrações e continuação. Tudo o que poderia existir já existe. Nada mais pode ser criado senão revelado. (Perto do Coração Selvagem. P.138-9)


Pergunta: Husserl leu Espinosa?

sábado, 15 de maio de 2010

Caio F., Onde andará Dulce Veiga?

Caio Fernando Abreu, entre os anos 85 e 90, se dedicou à escrita de “Onde andará Dulce Veiga/?”. Essa foi sua segunda incursão pelo gênero do romance. Diferentemente do seu primeiro romance, Limite Branco, não há em Dulce Veiga um Caio tão angustiado (chamo atenção para o "tão"). Há um Caio maduro, que procura responder questões existenciais. À diferença dos textos anteriores, nesse último, há uma resposta.

A busca por Dulce Veiga, que à primeira vista parece nos colocar diante de um romance policial, classificação sugerida pelo próprio autor em uma de suas cartas, não é uma investigação policial cujo objeto seria Dulce Veiga. O objeto dessa investigação é a própria personagem principal do livro, o narrador. O que se busca é um sentindo para existência: conseguir colocar a gota de mercúrio no centro da caixinha "tinha se tornado uma questão de vida ou morte (...). De vida ou morte era exagero, mas de sanidade ou de loucura, não" (p.202). Busca-se uma existência similar a da gota que consegue "chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás” (Idem, ibidem).

Como chegar ao centro sem se partir em mil fragmentos pelo caminho? Essa parece ser uma das questões centrais postas pelo texto, cuja resposta parece ser indicada quando o narrador encontra Saul, o qual, tal como aquele que pediu um beijo a Arandi, pede um beijo ao narrador. Beijar Saul implica a aceitação daquilo que lhe causa repulsa, implica o abandono do que é imposto culturalmente. Abandonar tudo isso é necessário para chegar inteiro ao fim do caminho, "é preciso ser capaz de amar meu nojo mais profundo para que ele me mostre o caminho onde eu serei inteiramente eu" (p.212). Aceitar o nojo é se aceitar completamente: é aceitar ser aquilo que se é.

Ao aceitar o próprio nojo e ao enfrentá-lo o narrador-personagem aceita a vida com todas as suas contradições. Ele que se mostra o tempo todo cético diante dos búzios de sua vizinha e da astrologia de Patrícia, acaba por aceitar o mistério. Tal aceitação, não se dá do nada, sempre esteve presente, mas de uma maneira incompleta, numa relação de luta com um modo “racional-realista” de ver o mundo.

O encontro com Dulce é o encontro com o “real-místico”. A cantora que desistiu de tudo para buscar "outra coisa" virou cantora de churrascaria. O que poderia ser visto com tristeza, pela perda de status, não o é. Dulce é pobre, mas encontrou o algo mais que não encontraria num mundo essencialmente urbano. Ao que parece, não só não podemos encontrar o místico e com ele a felicidade no mundo urbano, como este último constitui impedimento para que se alcancem tais coisas: o algo além. Somente no mundo de Dulce Veiga é possível encontrar outra coisa, algo além, e é isso que o narrador descobre ao encontrar Dulce. O algo além é a própria vida em sua simplicidade encarada a partir de sua faceta mística e inexplicável.

No entanto, mesmo tendo encontrado Dulce Veiga a personagem central não permanece com ela, volta para sua vida urbana. Volta que não se dá sem que uma modificação tenha sido operada e sem que parte do que não pode ser encontrado no mundo urbano seja levado para este mesmo, afinal Cazuza (O gato) vai junto para São Paulo. O livro, por estes e outros motivos, busca uma espécie de equilíbrio entre o místico e o racional. É nesse equilíbrio que encontramos um sentindo a nos mostrar como podemos chegar ao fim do caminho sem nos fragmentarmos completamente. Fragmentos há, prova disso é que, afinal, Pedro nunca mais volta e a vida não é tão simples como a caixinha de mercúrio. Caio come chocolate, se suja com ele, sem nunca deixar de pensar enquanto tira a folha que é de estanho, eis à resposta.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A culpa é do povo

JustificarOs meios de comunicação batem, insistentemente, na tecla voto consciente. Batem nessa tecla com razão, afinal, nossas escolhas determinarão, em alguma medida, o ruma de políticas que afetarão nossas vidas. Então, para mudarmos alguma coisa precisamos votar conscientemente. A lógica desse discurso é a seguinte: da mesma forma que terminaríamos com um namorado ou uma namorada se ficássemos sabendo (conscientes) sermos vítimas de traição, é preciso saber (ficar consciente) de quem é quem no mundo da política para romper ou estabelecer uma relação. Sabemos ser importante votar de maneira consciente. Mas, se sabemos disso, por qual motivo acontecem tantos escândalos e não muda nada, ou quase nada, no panorama político? Se todos sabem que devem votar de maneira consciente, então, quem é o inconsciente da história? Ahh... Sim, o povo, sempre o povo! Tudo está como está por causa do povo, massa amorfa incapaz de mobilização e apática demais para buscar informações. Sendo assim, podemos dizer ser o povo merecedor do governo ao qual está submetido, confirmando a famosa frase: cada povo tem o governo que merece (frase que descobri, numa pesquisa rápida na internet, ser do filósofo Joseph-Marie de Maistre).
Duas perguntas: Se cada povo tem o governo que merece, será que não estamos contentes com nossos governantes por sermos eternos insatisfeitos? Não. E posso dizer isso de um modo tão definitivo pelo seguinte: não somos o povo. Quem está insatisfeito nunca é o povo. O insatisfeito nunca se identifica com ele. Afinal, quem é o povo? Quem é esse que, volta e meia, é considerado o responsável por colocar políticos corruptos no poder? Quem é esse que, além de colocar políticos corruptos no poder, não faz nada diante da corrupção?
O povo é o ingênuo, o ignorante, quase sempre o pobre e, só algumas vezes, a classe média, mas nunca o rico. O povo é aquele que se deixa enganar, aquele que troca seu voto por óculos, churrasco, por algum cargo, ou algum outro bem imediatista. O povo é todo mundo, o povo é ninguém. Eu não sou o povo, nem sou do povo, imagino que você também não seja o povo e nem do povo, ninguém é. O povo é sempre o outro, os outros, mas nunca, nunquinha, a gente. E isso não acontece só no campo da política, em tudo o mais é assim: o povo é que escuta música ruim, o povo é que assiste novela, o povo é que não lê, o povo é que não se informa. O povo, sempre o povo!
Se eu não sou o povo, se vocês leitores não são o povo, se seus amigos próximos não são o povo, se o povo é sempre o outro que se encontra distante de mim socialmente, culturalmente, quem é, então, o povo? Se aqueles que pensamos ser o povo não se pensam como povo e, ainda por cima, também colocam a culpa no povo, pois eles também não são o povo, quem é o povo? Me digam, por favor, quem é o povo? Quero apontar para ele e dizer: a culpa é sua. Só espero, quando nos encontrarmos, não ouvir dele as seguintes questões: i) o que fazer quando só é possível escolher entre variações da mesma tonalidade? ii) Será que escolho verdadeiramente ou só faço parte de um jogo no qual finjo escolher? iii) O que fazer? Diante dessas questões eu só poderia responder: apareça Povo, apareça cada vez mais. Entre nos espaços mesmo sem ser convidado e, em alto e bom tom, diga o seu nome.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O homem é um animal político: mesmo quando não sabe disso!

A época das eleições se aproxima e já começam todas as campanhas pela conscientização dos jovens e da população de um modo geral. Fala-se, por todos os cantos e a todo o momento, da importância da política e do voto consciente. A frase mais repetida, que é levada a exaustão, sobretudo, no dia das eleições, é a de que é chegada a hora de exercer a cidadania. O que se entende por exercício da cidadania? Ir até um local escolhido, de preferência que seja próximo a casa do cidadão ou cidadã, e digitar, numa máquina, um punhado de números que gerarão a imagem de algum dos sicranos que concorrem à eleição, deve-se ver se a cara do dito cujo corresponde ao esperado, caso corresponda aparta-se sim, caso não corresponda, deve- se apertar corrige e tentar mais uma vez.

Não posso ser injusto com os meios de comunicação: eles também alertam para a importância de acompanhar o que o político fará para saber se é merecedor do voto ou se devemos depositar nossa confiança e expectativas em algum dos outros indivíduos que se dizem dela merecedores. Indo ao dia da eleição e votando, acompanhando o que fez o político, este último item não parece ser tão imprescindível, já se tem um cidadão que realizou o exercício mais nobre de todos, a senhorita cidadania. Ou seja, política e cidadania são coisas que se resolvem praticamente em um dia e que, passado esse dia, pode-se guardar até o próximo ano de eleição, época em que, novamente, seremos cidadãos e cidadãs.

Cidadania e política são apresentadas como coisas totalmente distantes do nosso dia a dia, que se resolvem numa determinada época de um determinado ano, algo mais ou menos como carnaval, época de libertar os instintos, ou como o natal, época de presentear, de ser bom e encontrar a família. A cidadania é como aquela roupa que só se veste em um dia muito preciso, com um pouco de orgulho e desconforto para ir a uma festa, no caso, aqui, trata-se da festa política promovida pelos políticos. Nesta festa a função do cidadão eleitor e da cidadã eleitora está muito bem definida: tal qual o pai que leva a noiva ao altar e a entrega ao noivo, o qual juntamente com ela se encaminha para as mãos de Deus, os eleitores entregam seu voto a um sujeito previamente escolhido por meio do horário eleitoral e, quando muito, por meio de um debate, feito isto, voto e político estão entregues a Deus e, com o perdão do trocadilho, diz-se adeus.

Esquece-se, entretanto, que política não se reduz a escolha de determinado fulano como representante legal, mesmo não querendo e não sabendo, nos demais dias do ano e em todos os anos fazemos e vivemos a política. Vivemos a política não só como fruto da ação dos indivíduos por nós eleitos, mas nas nossas escolhas diárias. Quando estamos nos supermercado podemos escolher comprar produtos que apóiam o meio ambiente ou escolher aqueles que não apóiam. Quando comemos, podemos escolher uma alimentação que envolveu o sofrimento de outros seres, sejam eles humanos ou não-humanos e uma alimentação livre de sofrimento. Quando presenciamos cenas de abuso, podemos escolher entre o silêncio conivente e a intervenção modificadora. Quando vemos os abusos estéticos e éticos da mídia, podemos escolher entre a perpétua submissão e a revolta que diz não e exige mudanças. Quando ouvimos falar da apatia das pessoas diante da política por ausência de causas por que lutar, podemos nos contentar com o mero balançar de cabeça que concorda com tal constatação ou podemos nos unir a quem pensa diferente e reconhece existir muitas razões pelas quais lutar.

As causas políticas estão na nossa cara, só não enxerga quem não quer ou quem já teve seus olhos extirpados por um sistema ideológico que identifica violência com a ação de bandidos, únicos perturbadores da ordem. A violência está na ordem, ela é a ordem do dia, esse é o motivo da sua invisibilidade. A violência contra os animais aparece como gastronomia, como rodeio, como circo, como puxada, como farra do boi, mas nunca como violência, afinal sempre comemos assim, sempre nos divertimos assim, não podemos modificar a cultura e, além do mais, animal não sente dor, não sofre por não ter consciência. A violência contra a mulher aparece como tratamento de beleza, cirurgia plástica, como mulher moderna que deve ter tempo - isso se quiser ser uma mulher completa- para trabalhar e cuidar dos filhos, mas nunca como violência. A violência contra os negros aparece na sua ausência em papéis importantes na televisão, na sua ausência das salas de aula, na sua ausência entre grupos sociais privilegiados, mas eles nunca aparecem como violentados, somente como agentes de violência. A violência contra os homossexuais aparece nas brincadeiras, na proibição de exposição pública da afetividade, mas nada disso é visto como violência, trata-se apenas de “brincadeiras” e reclamar delas é dar mostras de não possuir senso de humor, a exigência de que se faça tudo entre quatro paredes, mesmo o mais singelo dos beijos, não é violenta, trata-se apenas de uma questão de respeito, pois não é necessário incomodar as pessoas mais velhas.

Quando compactuamos com todas estas coisas estamos fazendo política, mesmo que não queiramos ou não saibamos, estamos sendo coniventes com uma política das hierarquias, da exclusão, da violência. E o fato é que, de uma forma ou outra, seremos respingados por esse sangue que jorra dos atos dessa política da violência, ora como perpetradores, ora como sofredores. Por isso, é sempre bom lembrar que a política está imiscuída em nossas escolhas, mesmo nos atos mais simples, como o de rir de uma piada, compactua-se com um sistema político. Escolher um candidato é importante, afinal ele será o responsável por decisões que afetarão nossa vida até mesmo em seus detalhes, mas nós estamos sempre fazendo política e isso vai para além dessa simples escolha. Ser cidadão é muito mais do que apertar sim ou corrige, ser cidadão é ter um posicionamento diante do mundo e lutar, de modo coerente e racional, por uma vida melhor e mais digna a todos. Ser cidadão é, para superar a heteronomia dos valores sociais, inclusive, lutar para a criação de espaços em que se discuta o que é uma vida melhor e mais digna. Ser cidadão é ser um sujeito de ação exigente de uma lógica da política regulada por expedientes institucionais comprometidos com valores éticos.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Espinosa o apóstolo da razão

http://www.youtube.com/watch?v=W8-T2GITLeU

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Projeto de Lei Complementar nº 122

Recebi um e-mail de um amigo, solicitando minha participação numa enquete eletrônica no site do Senado, sobre o Projeto de Lei Complementar nº 122, que propõe que a homofobia seja considerada crime... como outras discriminações já o são.
Como, refletindo seriamente, não consigo ver diferença de valor entre pessoas seja por cor, seja por sexo, seja por opção sexual, participei da dita enquete, apoiando a aprovação da lei. Mas me espantei um pouco com o resultado parcial da pesquisa. Afinal, dos cerca de 200 mil participantes, mais da metade não desejaria ver a tal lei aprovada.
É verdade que não conheço o conteúdo exato do projeto, que pode até criar uma "discriminação duplicada", quando se começa a "impor" ao grupo majoritário a aceitação do grupo minoritário; aceitação essa que não existe por algum motivo cultural. Essa convivência, penso, tem que ir aumentando naturalmente, começando com uma respeitosa assunção da realidade da existência do grupo minoritário - seja de que natureza for a "diferença" que os distingue -, até a percepção de que o valor de cada ser humano está em suas atitudes no que diz respeito ao "outro", e não a opções pessoais que não envolvem nenhum prejuízo ao tecido social.
Atentemos para o fato de que não se está falando simplesmente de concordar ou não com a opção sexual, mas de agir contra a integridade física ou moral de um outro ser humano que pensa diferente.
Não por coincidência, por esses dias, o jornal O Dia publicou um artigo do estilista Carlos Tufvesson sob o título "Só por que a Bíblia diz?". O texto começa assim: "Fica difícil entender por que toda vez que um projeto de lei para tutelar os direitos de uma minoria, no caso, os homossexuais, está para ser votado, começa uma grita orquestrada por líderes religiosos para que isso não seja visto pelo que é - um caso de direito civil e humano - e, sim, pela ótica religiosa".
O autor do texto prossegue comparando a situação em questão com a dos negros, e com a existência da Lei Caó, que protege estes últimos. E cita um dado que, se for verdadeiro, é preocupante demais: "No Brasil, um homossexual morre a cada três dias por crime de ódio!".
O supracitado autor propõe que "A Bíblia reflete os costumes da época em que foi escrita. Entre eles, por exemplo, a concordância com que um homem compre escravos, desde que de outro país (Levítico 25,44) e mesmo indica como castigo a pena de morte, tão condenada pela Igreja (Levítico 24,17)". E, por fim, diz: "Diante disso, cabe uma reflexão: devemos mudar a legislação para adaptar o Código Civil às leis da Sagrada Escritura? E, numa sociedade com tantas religiões, como no nosso país, como isso seria?".
Particularmente, eu ampliaria a questão para outros aspectos que estão pedindo uma solução mais "imparcial", como a dos estudos com células tronco, mas, como o post gira em torno do tal projeto de lei, limito-me a comentar o que escreveu Carlos Tuvfesson.
Spinoza, como iniciador da exegese bíblica, já indicava que os regramentos religiosos visavam preponderantemente à boa convivência dentro das comunidades. Sob este aspecto, o Antigo Testamento acerta, por exemplo, impedindo que se tomasse um concidadão como escravo - que se vá buscá-los na África, não é? E isso estaria justificado biblicamente. Mas não podemos deixar de constatar que o regramento social, tanto no nível da legislação, quanto no nível menos "formalmente" determinado, como é o caso da moral, é um constructo humano. Poucos pensadores, atualmente, concebem uma tábua de valores absolutos. Se os valores são "plásticos" - não meramente "relativos", entretanto -, moldáveis de acordo com o tempo e o espaço, não há um motivo real, a menos de uma "teimosia" desmedida - desconsiderando uma possível "má-fé" dissimulada - de, em constatando um fenômeno efetivo, encará-lo segundo o quadro social atual.
Mas, ainda que se mantenha um preconceito interior - o que também deve ser "tolerado" pela "minoria" em questão -, não se pode aceitar a violência física ou moral contra outro ser humano.
Se atualmente se discutem as agressões contra os animais e a natureza, em geral - reflexões impensáveis na época do Antigo Testamento, com todas aquelas "ofertas" sacrificiais ao Senhor e a ideia de que a natureza, incluindo os animais, foi feita apenas para servir ao homem -, como não erradicar agressões a outros seres humanos?
Juízo, Brasil!

Texto publicado por Ricardo no blog http://spinozaeamigos.blogspot.com/

domingo, 16 de agosto de 2009

Direitos animais: a abordagem abolicionista” escrito pelo norte-americano Gary Francione.

Encontrei, no blog Gato Negro, um ótimo planfleto que, além de facilitar o entendimento da importância de se posicionar em relação aos direitos dos animais, nos apresenta aglumas boas razões para que se assuma uma prática vegana. Leitura fácil e rápida, para veganos e não veganos. Do mesmo modo que o pessoal do Gato Negro pediu, eu peço: divulguem o panfleto! Ele está disponível aqui no blog e no Gato Negro. Para conferir o panfleto procure, aqui no blogue, a imagem em que está escrito "Direito dos Animais", clique na imagem. Feito isso, leia e repasse.

Abraços